Indígena Avá Guarani é decapitado em área de conflito por terra no Oeste do Paraná

Na manhã de sábado, dia 22 de março de 2025, um indígena Avá Guarani foi encontrado morto e decapitado em uma estrada rural nas proximidades do Aeroporto da cidade de Guaíra (PR).
O corpo foi jogado na vegetação e a cabeça pendurada em uma estaca feita de galho de mamona. Imagens chocantes circulam em grupos de Whatsapp.

Lideranças Avá Guarani afirmaram em condição de anonimato, que o jovem assassinado se chama Marcelo Ortiz e atendia pelo apelido de Ku’i. “Era um jovem trabalhador, morador do Tekoha Jevy”, contou um indígena ouvido pela reportagem.
A autoria e a motivação do assassinato seguem desconhecidas. Agentes da Força Nacional, da Polícia Federal (PF) e da Polícia Civil foram ao local e o corpo de Ortiz foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) da cidade de Toledo (PR).
Em nota, a PF informa que “iniciou investigação policial no início da manhã” e que “foram realizadas diligências policiais e perícia visando a identificação dos autores do crime”.

Escalada da violência em área de disputa por terra na região de Guaíra
A aldeia onde Ku’i morava faz parte da Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá que, sobreposta por 165 fazendas, já teve seus 24 mil hectares identificados e delimitados pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018. Desde então, no entanto, o processo demarcatório está parado por conta de uma ação impetrada pelas prefeituras de Guaíra (PR) e Terra Roxa (PR), e acatada pela Justiça Federal em primeira instância.
Confinados em pequenas áreas ou vivendo em territórios retomados, os Avá Guarani pressionam pela reocupação e demarcação de suas terras no Oeste do Paraná. Desde julho de 2024, quando os indígenas retomaram parte de seu território, a violência escalou na região e a cidade de Guaíra se tornou o centro do conflito.
Neste município, que faz fronteira com o Paraguai, um acampamento de não indígenas foi montado próximo à retomada Yvy Okaju. A aldeia, alvo de diversos ataques armados, já teve 12 de seus moradores alvejados. Entre eles, uma criança e um jovem. Os indígenas também relatam sofrer ameaças e boicote dos comércios locais, vivendo sob um cerco e, por vezes, passando fome. Na última quinta-feira (20), mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) doaram cinco mil quilos de alimentos aos Avá Guarani.
É neste contexto que acontece o homicídio brutal de Marcelo Ortiz. “A cabeça foi colocada em um toco de mamona para todos verem. Foi posta em um lugar que é a única via para chegar na aldeia e também para sair para a cidade”, relata uma liderança Avá Guarani.
“Não sabemos quem fez, nem porque isso aconteceu. Queremos que as investigações sejam feitas o quanto antes”, demanda outra Guarani, ouvida pela reportagem do Brasil de Fato.
Na manhã deste sábado (22), indígenas e integrantes de organizações indigenistas estavam no Tekoha Hité, para uma reunião previamente marcada, quando chegou a notícia sobre o corpo encontrado. Alguns se deslocaram até a estrada e acompanharam a chegada da perícia. Os Avá Guarani fizeram cantos e rezas.
O episódio acontece dois dias antes do início da Assembleia Geral da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização que reúne indígenas do povo Guarani das regiões Sul e Sudeste do Paraná. Cerca de mil lideranças devem se reunir na cidade Itaipulândia (PR) entre segunda (24) e sexta-feira (28).